Poesias
SOB OS CÉUS DA PALESTINA ( Mário Barreto França)
Deixando a terra do Egito,
Olhos postos no infinito,
Pela senda peregrina,
Da indiferença desperto,
Israel vence o Deserto,
Sob os céus da Palestina.
Funda-se um reino de glórias,
Escrevendo nas vitórias
Sua história diamantina;
E o decálogo aparece
Como um sol que resplandece
Sob os céus da Palestina.
E a jovem nação se ufana
Das leis da moral humana
Que o mundo inteiro ilumina;
E esse código sagrado
Congrega o povo irmanado,
Sob os céus da Palestina.
Mas o orgulho da vaidade
Rejeita a luz da Verdade
E o próprio Amor assassina;
De então, das mágoas o travo
Reduz Israel a escravo,
Sob os céus da Palestina.
Passa a vida, o tempo corre,
Mas a esperança não morre
No peito que a Deus se inclina
E aguarda melhores dias
Pela vinda do Messias,
Sob os céus da Palestina.
Mas, em Belém, certo dia,
Numa humilde estrebaria
Surge a Promessa divina:
"Em glória a Deus nas alturas
E em paz para as criaturas!..."
Sob os céus da Palestina.
Em graça, o Menino cresce,
Com Ele, o humano interesse
Que um novo céu descortina...
Mas, seu Reino era sagrado...
E Ele foi crucificado,
Sob os céus da Palestina.
Mas Ele venceu a morte,
Ressurgiu glorioso e forte
E é Deus que a Fé nos ensina;
E, em seu martírio fecundo,
Brilha a esperança do mundo,
Sob os céus da Palestina.
Homem! Se a dor te maltrata
Em teus olhos se desata
O pranto, em mágoa ferina,
Corre ao Calvário, descansa,
Na cruz de Cristo a esperança,
Sob os céus da Palestina.
Do livro: Sob os Céus da Palestina
O CEGO DE JERICÓ (Mario Barreto França)
Perto de Jericó, à margem do caminho,
Costumava sentar-se, esmolando sozinho.
O cego Bartimeu.
Ah! Ele nunca vira
A paisagem sorrir sob um céu de safira,
Os rebanhos pastando em campos verdejantes
E os olhos de seu pai, de bênçãos transbordantes,
Porque era, infelizmente, um cego de nascença,
Mergulhado na dor de suas trevas imensas...
E ele, no íntimo d’alma, exclamava: - Quem dera
Achar esse Jesus que milagres opera!
Pois imploraria e choraria tanto,
Que Ele havia de ter piedade de meu pranto
E, certo, me daria a luz para os meus olhos,
Guiando-me na vida, entre tantos escolhos!...
Certo dia, porém, ele estava esmolando,
Quando ouviu um rumor de turbas caminhando.
Prestou toda a atenção e descobriu, sem custo,
Que era Jesus quem vinha - o poderoso e justo Rabi.
E, ao pressentir que perto Ele se achava,
Na esperança de ser escutado, gritava:
- Ó filho de Davi tem piedade de mim,
E livra-me, Senhor, destas trevas sem fim!
E muitos, em ameaça, exclamavam: - Ó tolo,
Cala-te! E em teu silêncio encontrarás consôlo!...
E ele gritava mais: - Jesus, eu creio em ti!
Tem piedade de mim, ó filho de Davi!
É que ele meditava: - Ah! se agora não falo,
Onde irei,onde irei outra vez encontrá-lo ?!
Se me passa veloz essa oportunidade,
Nunca mais eu verei minha felicidade!
E Jesus, que entre a turba ia calmo seguindo,
Solícito parou, aquela voz ouvindo,
E ordena: - Ide-o buscar! Trazei-o sem demora!
Porque na sua angústia ele suplica e chora!
E foram-no chamar, na alegria que inflama:
- Levanta-te com fé, porque o Mestre te chama!
Tem esperança e vai!
E ele, a capa deixando,
Correu para o Senhor, de gozo transbordando.
Perguntou-lhe Jesus: - Que queres tu que eu faça?
E o cego respondeu: - Que eu veja a tua graça!
Que eu tenha vista, Mestre!
Então, Jesus falou:
- Vai em paz! Vai em paz! Tua fé te curou!
Quando ele abriu o olhar, na mais grata surpresa,
Contemplou extasiado a linda natureza:
O céu azul, o campo enfeitado de flores,
E o horizonte a sorrir em nuvens multicores;
Porém, nada mais belo ele viu do que a luz
Refletida no olhar dos olhos de Jesus.
Jesus (Jonatas Braga)
Mais precioso que a pérola preciosa,
Mais olente que as rosas de Saron,
Desabrocha Jesus qual uma Rosa
Que brotasse das águas de Cedron.
Ele é tudo na vida duvidosa:
Ele é a vida, Ele é a luz, é a cor, é o som
Ele é a força, ele é paz maravilhosa
Que nos leva a sonhar um sonho bom.
Nem os lírios dos vales da Judéia
Em seus cânticos suaves de epopéia,
Têm a graça e o fascínio de Jesus,
Porque o filho de Deus é para o crente
Essa pérola de brilho transcendente,
Que refulge no engaste de uma cruz!”
Sobre as Ondas ( Mario Barreto França)
Era noite. O alto mar se enfurecia...
Para o barco veloz que à morte avança,
Não restava uma simples esperança
De incólume rever a luz do dia...
Entre as brumas, porém, da noite fria
Aparece uma sombra, calma e mansa...
Era um fantasma? – Não! – era a bonança
Que em Jesus, como bênção, se anuncia.
Inda hoje o mar do mundo se encapela;
E, no barco da vida, já sem vela,
Não nos resta sequer uma ilusão...
Mas – Senhor! – sobre as ondas revoltadas,
Volta a trazer às almas torturadas
O consolo da tua salvação!